23 de fevereiro de 2011

A felicidade de um menino

A felicidade, para mim, era uma sensação sublimada, não uma situação vivida, era uma luz distante, um facho visto no horizonte, não o fogo inextinguível que irrompe no coração. A felicidade era algo inatingível, não a proximidade que anula a solidão. A felicidade era o que não entendia, mesmo agindo como se a conhecesse profundamente.


Tanto busquei ser feliz, que deixei de querer ser feliz, porque buscava com a razão, não queria nos sentimentos. Pretendia a felicidade no futuro, mas o futuro sempre permanecia longínquo, chutado adiante, como uma bola na magia do futebol. Sempre identifiquei-me com o zagueiro, a defesa, o bloqueio da grande área. Sempre coloquei-me na trincheira da defesa, da autodefesa, bloqueando meu coração do que julgava ser infelicidade, mas não enxergava que a felicidade poderia vir tranquilamente, para transformar minha vida. A vida não é um jogo de futebol, apesar do futebol proporcionar ensinamentos à vida. É preciso correr e domar os sonhos, como doma-se a bola. É preciso agir com estratégias, acreditar na vitória, esforçar-se para vencer.

Eu não vencia, deixava-me acuado num canto, idealizando a felicidade que poderia ter. Eu olhava no espelho e via o reflexo da felicidade em outra dimensão, tão improvável que era.

Quando criança, subia nas árvores e mirava o mar de galhos e folhas, ao som de pássaros livres, e tudo soava como felicidade. Queria aquilo em mim. A alma das árvores, o mistério da vegetação, as melodias dos pássaros, os murmúrios dos rios, lagos, a vida além. Quando criança, tudo era gigantesco, sentia-me o pequeno Polegar. A felicidade era gigante.

Hoje, talvez tenha perdido o tato para subir nas árvores, prefiro admirá-las, mas a felicidade continua sendo gigante. E não é apenas uma sensação, mas uma certeza. Hoje, estou mais para volante que zagueiro. O volante, aquele que atua na ligação da defesa e do ataque. Não permaneço inerte, mas prossigo, porque a felicidade não é uma mera ilusão, mas a concretização da vontade.

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